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A mostrar mensagens de abril 23, 2023

Inverno

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  Foto: Ana Maria Oliveira Este tempo de alheamento paralisa A fraca respiração sem visionamento Esperando o murmúrio dos ribeiros Combater a doença com um sorriso no rosto Descansar no final da praia Depois da caminhada pelo areal Evitar pisar as anémonas à beira-mar desmaiadas Saltar para dentro de um filme no refúgio entre paredes Adiar as escolhas olhando as unhas quebradas   A gata siamesa mira-me paciente Como se aguardasse um sinal de atenção Estes felinos adivinham o sofrimento Observam-nos os esgares vigiam-nos os gestos Enroscam-se em nós, como se ansiassem ajudar-nos    Assiste curiosa às minhas tentativas Do ritual simples de vestir e calçar Conseguir a rotina de tomar um banho glorioso Com a mão esquerda incapacitada o exercício é lento Torna-se um empreendimento penoso   Crepita a repetição dolorosa de outras eras Quantas guerras bramidos e dias aflitos Na ânsia de navegar em rios mansos Sem jogos psicológicos Sem manipu

Estrada serpenteada

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  Foto: Ana Maria Oliveira Afluem musgos na superfície húmida das pedras  Nas sombras dos fetos descansam répteis e centopeias no seu território Flores parasitárias de cores garridas atraem o olhar dos caminhantes Perante os bichos que debandaram para fora do caudal seco do rio   Permanece um fraco som de água em queda Caindo no poço profundo entre montes abruptos Armadilha para velocistas sob a coroa da bravura  Transpondo as dobras do caminho acanhado Num voo de cenário pintado em tons de tragédia   A estranheza sobrevém da sonoridade da terra Quando a cadência de um povo fatigado Repete musicalidades centenárias Esperando a delicadeza da divisão das águas Com orgulho trabalho teimosia e sorte Nos socalcos instáveis de vida e morte   Espaço de dólmens anunciando a efemeridade  No olhar sereno de quem sabe Que está próximo do pórtico de abalada Dos tempos caídos nos desertos iminentes Dos poços secos agora contaminados Pelo ritual espezinhado dos voos  Ávidos de vida acelerada   Há um

O lagarto de água

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  Foto: Ana Maria Oliveira O reptil surge a meus pés por entre o verde das ervas Contíguas ao ribeiro murmurante que corre pela represa serena Aguardando o chapinhar das crianças em pleno estio Pois agora ninguém pisa nem agita aquele solo sagrado Apenas o belo lagarto de cabeça azul traz a mensagem silenciosa Da robustez e perseverança sob o sol dúbio e sedutor da primavera    Procura na zona de penhascos contíguos ao ribeiro A fêmea que provocará o ritmo de acasalamento O reptil de cabeça azul perde-se hirto no meu olhar Atraído por zonas húmidas invadindo sombreados Na estação de reprodução que está prestes a chegar     Nesta gloriosa época soalheira larga o torpor invernoso Aparece com firmeza na linha de água à minha frente em pleno dia Confia inteligente na aptidão do escape por entre a serena aragem Procura o sol sem preocupação pelas aves de rapina esfomeadas Transmite paciência e confiança na sua própria camuflagem   A capacidade de soltar