O lagarto de água

 

Foto: Ana Maria Oliveira

O reptil surge a meus pés por entre o verde das ervas

Contíguas ao ribeiro murmurante que corre pela represa serena

Aguardando o chapinhar das crianças em pleno estio

Pois agora ninguém pisa nem agita aquele solo sagrado

Apenas o belo lagarto de cabeça azul traz a mensagem silenciosa

Da robustez e perseverança sob o sol dúbio e sedutor da primavera 

 

Procura na zona de penhascos contíguos ao ribeiro

A fêmea que provocará o ritmo de acasalamento

O reptil de cabeça azul perde-se hirto no meu olhar

Atraído por zonas húmidas invadindo sombreados

Na estação de reprodução que está prestes a chegar

 

 Nesta gloriosa época soalheira larga o torpor invernoso

Aparece com firmeza na linha de água à minha frente em pleno dia

Confia inteligente na aptidão do escape por entre a serena aragem

Procura o sol sem preocupação pelas aves de rapina esfomeadas

Transmite paciência e confiança na sua própria camuflagem

 

A capacidade de soltar a cauda espontaneamente

É mecanismo de defesa contra os predadores

Troca de pele e reconstitui-se com sabedoria e calma

A sua energia é de resiliência crescimento e renascimento

Desaparece em minutos incutindo-me força para regenerar a alma


Alonga-se em mim a repetição de um ciclo

Avisa a missiva oculta do lagarto

O que me tem orientado deixou um vazio no coração

Então há que retirar do pantanal repleto de perigos

Lidar com os lados obscuros da realidade

Voltear em transe de revitalização e cortar a corda

Que me dilacera os pulsos e enfrentar a verdade

 

 

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