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Tempo de interregno

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  Foto: Ana Maria Oliveira   As fotos pelo chão anunciam um espaço improvisado Nas garras do tempo que em agonia permanece parado Asfixiando gargantas e contracenando com o céu empoeirado Pelo calor invasivo de África anunciando calamidades De seca e penúria num anfiteatro de veleidades   Capto no ar partículas incontroláveis de mensagens desérticas E as sonoridades do improviso martelam para lá da sucata Que se impõe ao olhar contristado sem fantasias Enquanto os fungos e musgos proliferam Na pintura de telas rasgando em miscelânea cores sombrias   Os melros e as rolas insistem em manter o chilreado Acompanhando o prenúncio da primavera Na sonolência agressiva da perceção da morte Perante uma borboleta vulgar inanimada no piso gelado E o retorno do desejo intenso de me transportar Para a dimensão invisível e aí permanecer     Que espaço é este de interregno esperando o entusiasmo Que sabor é este que me azeda a boca Que passos me trouxeram d

Fluorescência

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  Pintura de Ana Maria Oliveira- Acrílico, Março 2024 Abre-se a luz depois do inverno cercado pela penumbra do desencanto Por onde os elementais se abraçam e proliferam Sustentando as vibrações de um paraíso em colapso Agita-se a proteína fluorescente trazendo para a visibilidade O parasita anulador de romantismos Construtor de cefaleias e trapezista entusiasta De rasgos cortes e amassos gastronómicos   É imensa e incontrolável a energia que me trespassa Perante um picar sensitivo sobre um coração em queda A desidratação emocional acompanha as vertigens A prostração anuncia a síncope E a fadiga aloja-se na ponte quebradiça do alento suspenso   Germina a luminescência adiada na frieza dos objetos Que atravessam inanimados o portal do tempo E uma ave revoltada em voo picado solta o grito Em direção à sobrevivência em topografias adversas   Mesmo sem asas dou materialidade ao sonho interior E arquiteto a fuga de alheios prosternamentos subtis Sorrisos

Reino suspenso

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  Foto: Ana Maria Oliveira Atravesso paisagens ditadas pela potência rodopiante das galáxias Que chacoteiam visões espasmódicas entre rajadas de nuvens elétricas Por intempéries caóticas provocadoras de vertigens Envolvendo o espírito num reino suspenso de feridas abertas   Provoco a ligação direta à fonte numa tentativa de subsistir aos tremores Em topografias desinquietas pela impermanência furiosa As pontes são destruídas pelas expectativas crucificadas Pelos projetos desenhados na temporalidade do movimento da mariposa Mas pressinto que tenho de abandonar o circuito antigo e voo levantar Deixando bilhete para quem deseja seguir viagem neste comboio Transitando sobre carris em esforço gigante ultrapassando penhascos Pois a carruagem onde prossigo está na iminência de descarrilar   Esbracejo na disseminação de viroses desafiando o ritual da existência A resignação paira sobre a cabeça dorida e febril prisioneira da morrinha Experimento um ser imóvel de

Fronteiras imaginárias

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    Foto: Ana Maria Oliveira Abraço eflúvios que me amparam e erguem do chão onde desmaio Pois esta inversão de marcha anunciada projeta-se Nos alicerces do passado inexistente Porque os sorrisos debandaram para um espaço incógnito Na profundidade misteriosa do reverso dos corpos E a memória traça armadilhas virtuais num conflito persistente   Alcancei o inverno das fronteiras imaginárias No viaduto contrário das falas Na dispersão fantasmagórica dos argumentos No desflorar lento e penoso da escrita No vazio frígido e penetrante do silêncio em antever No desvanecimento acelerado da respiração Na estranheza isolada e caprichosa da ambição alheia Na cegueira obstinada das criaturas sugadoras de poder   É um tempo precioso de recuperação Da criança que habita em mim apesar da enxurrada turva Acumulando a força e a determinação de se manter de pé Pois as decisões correspondem ao livre-arbítrio Mas as mudanças chicoteiam os girassóis Que se abat

Inverno

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  Foto: Ana Maria Oliveira A frieza sobrevivente das inundações Exala os odores da fermentação dos desvios No lamaçal das angústias maquilhadas de pânicos Quando os adultos dilaceram as crianças E acendem ódios milenares enraizados na genética dos delírios   Os vermes espalham-se invisivelmente nos currais da morte Os vírus contaminam os órgãos espalhando agonias Selecionam os frágeis sufocando-os Perante uma assistência que aplaude Como se ouvisse intermitências de sinfonias   A incontinência de esforço abre janelas de inquietação De impotência e desespero aprisionados no gelo profundo Dilacerando sonhos e romantismos em desidratação Provocam-se alagamentos e estilhaços bombardeamentos e percalços Miscelânea perfeita para perdurar a mundial inflamação   As irritações das mucosas preparam superfícies de aterragem A bactérias dançarinas em meio fluído de catástrofe Lágrimas de revolta amaldiçoam patologias sangrentas Adormecidas nos dilúvios sem

Fios de cobre

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  Pintura de: Ana Maria Oliveira A durabilidade do metal contrasta com a transitoriedade Das células biológicas e dos amores fictícios A resistência ao desgaste anuncia-me a coragem Conservando-me intangível no aprumo Sobrevivendo às neuropatias alheias   A flexibilidade permite o enrolamento dos fios Como a minha respiração sopra as mágoas Em direções longínquas emudecendo os cânticos De braços e abraços gélidos onde a empatia se esfumou Perante a crueza dos arrombamentos de espaços cálidos   Maleável no compasso do ritual dos planetas Os dedos enrolam o fio convidando-o a entrar noutras estruturas Mas o metal é rebelde e recusa a submissão Então transforma-se o fio de cobre em arlequim Forjando lâminas e bastões entrelaçando o caos   Manobrável e engenhoso sujeita-se ao corte E ao desdobramento que conduz energias em ebulição Então dócil desmaia com a minha loucura Enroscando-se criativamente tal como a alma que me anima Neste mundo de múlt

Veneno

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  Foto: Ana Maria Oliveira Defeca o ditador nas costas do escravo Evacua o reptil arquitetando a matança Cuspe o sabujo convencido que é gente Degolam-se os algozes transformando o ódio em herança   O lacrau expele o veneno ensaiando a dança O imperador ostraciza convencendo-se que é um deus Escarra sobre a flor que ilumina o caminho Expulsa os mendigos para o submundo embelezando a superfície Executa crucificações aplaudindo divertido com trajes de arminho   A vomição ambiciona despachar a dor que se agarra ao coração Expele mensagens de adeus chutando antipatias patológicas Abraça movimentos espasmódicos que anunciam a partida De energias sobreviventes a piruetas morfológicas Num teatro de faz de conta onde se mutila quem oferece afagos Soltando-se ansiosa das correntes antropofágicas   Despeja-se na valeta a dedicação e empenho Afasta-se o ser escorraçado e mal-amado em êxodo Relega-se de forma indiferente e egoísta Proscreve-se o que nã