Estrada serpenteada

 

Foto: Ana Maria Oliveira

Afluem musgos na superfície húmida das pedras 

Nas sombras dos fetos descansam répteis e centopeias no seu território

Flores parasitárias de cores garridas atraem o olhar dos caminhantes

Perante os bichos que debandaram para fora do caudal seco do rio

 

Permanece um fraco som de água em queda

Caindo no poço profundo entre montes abruptos

Armadilha para velocistas sob a coroa da bravura 

Transpondo as dobras do caminho acanhado

Num voo de cenário pintado em tons de tragédia

 

A estranheza sobrevém da sonoridade da terra

Quando a cadência de um povo fatigado

Repete musicalidades centenárias

Esperando a delicadeza da divisão das águas

Com orgulho trabalho teimosia e sorte

Nos socalcos instáveis de vida e morte

 

Espaço de dólmens anunciando a efemeridade 

No olhar sereno de quem sabe

Que está próximo do pórtico de abalada

Dos tempos caídos nos desertos iminentes

Dos poços secos agora contaminados

Pelo ritual espezinhado dos voos 

Ávidos de vida acelerada

 

Há um declive que aguarda os pés descalços da aventura

Sem espinhos e sem pedras cortantes

Apenas o delírio da maciez da areia fina

A limar as unhas partidas da escravidão

E o sonho de adormecer para sempre

Em condição pura e pacífica de fluídos amantes


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