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A mostrar mensagens de setembro 17, 2023

Famintas palavras

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  Foto: Ana Maria Oliveira As palavras devoraram-me os ossos Inverteram o propósito em trajetos adulterinos E conduziram os passos ao cruzamento da incerteza Ao cântico efémero dos pássaros Ao trajeto asmático dos felinos   Enlaçando agora frequências de clarividência Não há pressa na manipulação das cores até de madrugada Aconchego-me na criatividade do imperativo presente Que esqueceu as perspetivas tacanhas da sintática E avanço para sonoridades provocadoras De mandalas em delírio bailador Abandono as tintas sobre a velha tela enfadonha De uma cegueira programadora e tóxica Em ritmo caótico trémulo avassalador   Destruo a pintura varrendo pinceladas à toa E liberto-as para entrarem no jogo lúdico Do sol e da areia do rio e da veia Do vento e da poeira da montanha e planalto Do fogo e da cinza do sol e da lava Que sejam os elementos a criarem o asfalto   Alívio é a nave que me transporta de novo ao porto Que me acarinha e envolve Me d

Chove dentro de casa

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  Foto: Ana Maria Oliveira As rajadas trespassam o telhado Irrompendo no espaço humilde entre paredes Deste modo acordo impregnada de um sonho mensageiro Com a ânsia de traçar outros mapas que um deus austero plantou Ultrapassar topografias íngremes de gelo e de silêncio Reprimido na garganta que outrora cantou   As cordas vocais assimétricas geram rouquidão intermitente Delineando o cântico à vida afago em desespero As gotas de suor escorrendo pelo rosto em lassidão Encontrando paz temporária no isolamento em parte incerta Embrulhada no cobertor aquecido de mansidão   Os desejos evaporaram-se no amplexo da serenidade Assim vou acabando com a paródia das falas mansas Que escondem ambições que não têm o meu nome Nem permanecem em sintonia com o meu ser em convalescença Pois a desatenção permanece retida nos medos e vícios De abalroados gestos de rejeição e indiferença

Devorar a existência

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  Foto: Ana Maria Oliveira As bocas sedentas das fossas abissais engolem as correntes marinhas Provocando abrasões que trituram esculturas subterrâneas Do mundo esfaimado da escuridão Diante de atmosferas absorventes de venenos radioativos Tombando na superfície terrestre em excedente ablação   Paralelamente a serpente do mundo friável Consome o mineral e vomita-o em forma de sumptuosidade Torna-se cinzeladora das reentrâncias das trevas O magma engole o tempo intermitente dos raquíticos E negociantes de teatralidades despidas de tonalidade   Os devoradores verdugos procuram tesouros Escavam o âmago sugando uma viagem sem regresso Perante estampidos de cristais que se afeiçoam A terramotos indiferentes ao sentir humano imaturo E na antecipação absurda da posse de riquezas Destrói-se o presente na projeção tresloucada do futuro