Não sei escrever o amor
Foto: Ana Maria Oliveira Somos criadores de conteúdos suspensos no algar Entre margens moventes que ladeiam o rio empedrado Da inveja e do ódio Escuto os sons de um corpo que escachoa Alongando-se nas dimensões plurais Saltando brechas esqueléticas Deslizando por ravinas flutuantes Onde dançam borboletas Agora estraçalho-me em tiras elásticas Para chegar aos lugares do encanto cristalino Das águas deslizantes pelas concavidades Do ventre da terra mãe em estonteante espiral Que acalenta as depressões da memória cega Das partículas destrutivas do contágio viral Não sei escrever o amor Nem carregar com ele montanha acima O absurdo amoroso é uma trepadeira florida Que contamina a perspetiva tacanha De quem sustem o vómito perante afasias Para não estragar a toalha rendada Dos criadores de fantasias Enfrentar os malabaristas ou entrar no jogo É que a queda tem dia e hora marcados E é cansativo...