Famintas palavras

 

Foto: Ana Maria Oliveira

As palavras devoraram-me os ossos

Inverteram o propósito em trajetos adulterinos

E conduziram os passos ao cruzamento da incerteza

Ao cântico efémero dos pássaros

Ao trajeto asmático dos felinos

 

Enlaçando agora frequências de clarividência

Não há pressa na manipulação das cores até de madrugada

Aconchego-me na criatividade do imperativo presente

Que esqueceu as perspetivas tacanhas da sintática

E avanço para sonoridades provocadoras

De mandalas em delírio bailador

Abandono as tintas sobre a velha tela enfadonha

De uma cegueira programadora e tóxica

Em ritmo caótico trémulo avassalador

 

Destruo a pintura varrendo pinceladas à toa

E liberto-as para entrarem no jogo lúdico

Do sol e da areia do rio e da veia

Do vento e da poeira da montanha e planalto

Do fogo e da cinza do sol e da lava

Que sejam os elementos a criarem o asfalto

 

Alívio é a nave que me transporta de novo ao porto

Que me acarinha e envolve

Me dá descanso e a chance

De existir em gratidão num provisório remanso

 

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