Tempo de interregno

 

Foto: Ana Maria Oliveira


 As fotos pelo chão anunciam um espaço improvisado

Nas garras do tempo que em agonia permanece parado

Asfixiando gargantas e contracenando com o céu empoeirado

Pelo calor invasivo de África anunciando calamidades

De seca e penúria num anfiteatro de veleidades

 

Capto no ar partículas incontroláveis de mensagens desérticas

E as sonoridades do improviso martelam para lá da sucata

Que se impõe ao olhar contristado sem fantasias

Enquanto os fungos e musgos proliferam

Na pintura de telas rasgando em miscelânea cores sombrias

 

Os melros e as rolas insistem em manter o chilreado

Acompanhando o prenúncio da primavera

Na sonolência agressiva da perceção da morte

Perante uma borboleta vulgar inanimada no piso gelado

E o retorno do desejo intenso de me transportar

Para a dimensão invisível e aí permanecer

 

 Que espaço é este de interregno esperando o entusiasmo

Que sabor é este que me azeda a boca

Que passos me trouxeram de volta às cantorias de infância

Mas que silenciam os anseios de um ser à solta

 

Comentários

  1. Olá, vindo conhecer seu blog e você.
    Amei o poema, perfeita a maneira que você trouxe os intervalos.
    Curti demais! Aplausos!
    Beijo, beijo.
    She

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Por algum motivo, não consegui comentar. Faço-o aqui e por isso me desculpo.
      Estive a ler alguns dos seus blogues e poemas. Muito apreciei e comento neste, pois o considero maravilhoso.
      Um beijinho, a partir do Alto Alentejo.

      Eliminar

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