Débil memória

 

 

Foto: Ana Maria Oliveira


                          

 Não tenho memória

Peguei-lhe fogo nos dias de loucura

Em que mergulhei nua nas praias inventadas

Pelo desespero de me sentir encurralada nas decisões mais penosas

Agora anseio renascer noutro planalto em majestade

Onde as gazelas correm à frente dos leões ziguezagueando

Lutando pela vida num jogo faminto de sangue

Desejo a energia do presente esvoaçando em meu redor

Respirar o sol o frio o nevoeiro a neve a chuva a tempestade

 

Perdi a memória

Tornei-me loba desconfiada e solitária que recolhe à toca

Para recarregar o corpo com os nutrientes

Improvisados perante a chacina anunciada

Na agitação da bandeira negra dos homicidas

Agora as entranhas rejeitam a carne

Disfarçada de especiarias em podridão

Anunciando percursos em esconderijos

Evitando o vozeado da multidão

 

Ausentou-se a memória

Há um cronómetro que se ri de mim

Me controla os passos incertos

Me coloca num palco de figuras trágicas

Onde corro urgentemente para trás da cortina

Que me separa das gargalhadas de um auditório

Que capta a comicidade de cenas inusitadas

Cena que anuncia o adeus derradeiro de costas voltadas 

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