Interstícios do oculto
Foto: Ana Maria Oliveira |
Tenho os gatos por companhia
E a tala de gesso que contraria
a dor da queda
Como se fosse a
comunicação da fuga para o paraíso
Já que o inferno
permanece nas sinapses das arritmias
Anunciadoras do salto
para dentro do oculto
Em que o oxigénio
escasseia e o lar se divide
Não fazendo parte da
mesma colmeia
E as sequelas alargam o pesar
de um tempo oprimido e mudo
Gravado na genética das
reações
Gesticuladas na multidão
sem poiso e sem ação
Vence um virar gélido de
costas
E uma recusa impotente em
dar a mão
Sem piso para andar
sinto-me suspensa na forca
Como se o colete de
forças me envolvesse
Sem hipótese de me
libertar
Pois que as intempéries
troçam do meu tormento
Sem paredes onde me
refugiar
E o voo das aves zomba
com o meu sofrimento
O individualismo cria
espinhos em nome da autonomia
Perante as enchentes e o
transbordo dos rios
Estendem tapetes de lama nos
caminhos alagados
Obra de atmosferas
revoltadas e dúbios prodígios
Ou consequência castigadora
de inusitados pecados
O fogo de artifício
mascara o desalento
Do final de um ano marcado
pela continuação da guerra
Pelo silêncio das
crianças órfãs
E perante conflitos de
paranoia do poder
Honram-se os mortos por
entre sorrisos alienados
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