Ausência
Borbulham portais de luz
e movimento
Na casa que foi lar na
eternidade das galáxias
Sons que sustentam um
passado
Vibrações que fixam à
terra o abraço das árvores
Colhendo os figos de mel
sem contratempo
Agora transponho a sombra
e o pó
O chão levantado, as
paredes esburacadas ruidosas
Enferrujada e decrépita canalização
Obras adiadas e dolorosas
Um quintal feito de
entulho
Como um quadro
pintado
Anunciador da morte e destruição
Saio e acelero pelas ruas
estreitas
De um bairro em que
habitam fantasmas
Outrora feito de
brincadeiras e entusiasmos
Na subida às oliveiras
generosas
Crianças dançando sob os
ramos admirando sustentações
Na gritaria agitada num
salpico de ilusões
Hoje o tempo é impiedoso
na prisão em forma de furna
E num ápice entre inspirar
e expirar
Os órgãos cansados
anseiam fechar-se sobre si mesmos
Comunicam os espectros na
vertigem pelo cosmos
Mas assola-me sem
controlo uma crise de choro e pesar
Enquanto as cinzas
permanecem na urna
Ainda não sabemos lidar
com o impermanente
Como assimilar que quem
nos deu a vida
Se transformou em pó e já
aqui não mora
Que das estrelas nasceu e
para elas retorna
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