Não sei escrever o amor

 


 

Foto: Ana Maria Oliveira

Somos criadores de conteúdos suspensos no algar

Entre margens moventes que ladeiam o rio empedrado

Da inveja e do ódio

 

Escuto os sons de um corpo que escachoa

Alongando-se nas dimensões plurais

Saltando brechas esqueléticas

Deslizando por ravinas flutuantes

Onde dançam borboletas

 

Agora estraçalho-me em tiras elásticas

Para chegar aos lugares do encanto cristalino

Das águas deslizantes pelas concavidades

Do ventre da terra mãe em estonteante espiral

Que acalenta as depressões da memória cega

Das partículas destrutivas do contágio viral

 

Não sei escrever o amor

Nem carregar com ele montanha acima

O absurdo amoroso é uma trepadeira florida

Que contamina a perspetiva tacanha

De quem sustem o vómito perante afasias

Para não estragar a toalha rendada

Dos criadores de fantasias

 

Enfrentar os malabaristas ou entrar no jogo

É que a queda tem dia e hora marcados

E é cansativo trocar as voltas nos carreiros imprecisos

Pulo a cerca

Mergulho fundo

Corro a maratona

Navego em alto-mar

Para negociar mais um tempo de sorrisos

 

Nesta composição catastrófica até o vento se revolta

Com o reptil absurdo da mente humana

Agitando o arvoredo bate com portas e janelas

Enquanto a alma inquieta para o firmamento se solta

 

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