A fresta

 

Foto: Ana Maria Oliveira

A água em queda esculpe rasgões nas altas escarpas

Desenha um sulco anímico de centro adelgaçante apontando o céu

Expandindo-se para os lados quais lábios femininos gerando a vida

Apregoando o nascimento de criaturas endémicas

Gemendo no alvorecer do nevoeiro em paz prometida

 

Maviosidades sedutoras marcam o compasso suave do sol e da lua

Enquanto os repuxos dos montes criam regueiras

Ciladas para carrascos violadores de borboletas

Ardis aos sequestradores de lagartos das lagoas derradeiras

 

A força do feminil acompanha o planar das aves

A lentidão dos mamíferos ruminando o chão

A sinuosidade dos carreiros por onde as víboras se encobrem

A avalanche das correntes selvagens aflorando de longe 

Arrastam das altitudes os minerais da riqueza prometida

Preenchem os sepulcros intemporais do guerreiro e monge

 

A rachadura abriga o útero misterioso da terra

Repleto de escuridão em inércia acrónica

Onde se protegem as sementes da sobrevivência

Local lapidado em rocha bruta delineando esculturas

E onde o silvado oculta o profundo abismo em queda

Direto ao mundo subterrâneo da matéria gelada velando pariduras

 

A toada do frenesim de cadências do subsolo

Expõe provocatória a pujança vibrante do camaleão

Aninham-se os jorros das cascatas em frestas

Gerando um poço profundo na fronteira impercetível da alucinação

Foto: Ana Maria Oliveira


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