Insulamento existencial

 

Foto: Ana Maria Oliveira

Desliza um rio sereno de lágrimas num rosto manchado pelo tempo
Marcas de risos e choros de quem almeja conexão com a natureza
Consigo próprio e com o outro em abrupto sentimento
Germina eternamente o paradoxo de quem está só no meio da multidão
De quem desloca o seu foco para fora do grupo em fugida
Almejando o voo de duas almas que criam juntas
Galáxias inteiras jorrando veias palpitantes de vida

Esta solidão feita antagonismo esbofeteia-nos com o desazo
Na ligação total com o semelhante em desdobramento
Submergindo na plataforma vacilante da interpretação
Que nos une e simultaneamente nos arrasta para o afastamento

Não há ciência que preencha este vazio de frieza e que por dentro gela
Não há criação humana que me abrace as dores e me aquiete o espírito
Os pés frágeis sob o peso do tempo abandonam-se ao colo da mãe austera
Que tanto anima abraça facilita o florescimento
Como me desintegra arruína num processo gigantesco
Que concomitantemente goza com o trágico e de novo gera

Só pela criatividade nos rebelaremos nesta situação severa
Acutilância que nos asfixia e nos rasga por dentro
Nos faz levar as mãos ao chão e descansar o rosto junto à terra


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Débil memória

O palco da indiferença

A rua