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A visão

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  Foto: Ana Maria Oliveira   A memória que me enlaça borbulha assanhada Num lago cristalino onde Eros adormeceu Fervilha como uma onda de calor abafada Por uma montanha agreste de gelo que entristeceu   Antecipo visões de euforia onde a minha alma se refugia Para entrar nos rituais incansáveis de vida em homenagens Respiro agora num tempo que parou e os dias são marasmos Pela chuva e vento sincopados aguardo o rio de serenas margens   Sinto no deslizar dos astros que a contenda ainda não terminou Estou no centro de uma hélice que me empurra para as profundezas Das reminiscências ancestrais em pura necessidade Mas há uma dispersão nos céus e na terra Há tornados que nos empurram para estratégias de sobrevivência Que nos reprimem o coração e algemam a liberdade     Adiamos o embate gravitacional como patéticas ondas magnéticas Que saltitam esbaforidas em campos opostos E nesta interação superficial como frias inalcanç...

Refazer a trajetória

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    Foto:Ana Maria Oliveira O formato das nuvens anuncia-me que a fantasia Levantou voo para o reino do impossível Já não mora há muito tempo no castelo erguido Pela criança curiosa e insaciável por histórias de enfeitiçar Carregadas de melodrama e tragédias num palco dividido   Bato às portas que se mantêm fechadas Enquanto a tempestade faz vibrar janelas do lado de fora E dentro existe um chão minado apodrecido e esburacado À espera de carpinteiro que transforme o sombrio em claridade Refaço a trajetória acompanhada pelo ceticismo e glória E juntos rodopiam estilhaçando velharias Que se espalham petulantes e ariscas pelas cercanias   Invento pilares austeros de sustentação Parando aturdida em cada temporada Passo de uma carruajam para outra Esperando para problemas inventados uma solução Prossigo dando um soco na opinião alheia Vou fundo no olhar e da minha boca Saem verdades equilibristas que ecoam num giro estonteante ...

A mesmice castradora

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  Foto: Ana Maria Oliveira A sabedoria refugiou-se na invisibilidade do vento Enquanto o fantoche engole o fardo das mesmas emoções                                                                   Gesticulando danças de reanimação de vida malfadada Germina a mudança sem que os bonifrates se apercebam E a transição conduz os invisuais para a atmosfera contaminada   Saltitam epifanias alucinogénias Através da luz que só os quadrúpedes veem Onde nem a intuição tem força para se afirmar Assoma o estrangular da garganta como náusea Fazendo da sincronicidade apenas um leve flutuar   Respirar fundo sentir que se cai na ravina Acarici...

O crepitar do fogo

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  Foto: Ana Maria Oliveira Fervilha o pântano nos confins do inacessível Guardião de relíquias e fósseis falantes Mensageiro da glória e derrocada humana Embelezador de cadáveres Caldeirão nutritivo do princípio vital Como se a nossa mente não alcançasse A existência borbulhante sem começo Uma casa feita abrigo sem telhado Nem visualizasse um poço sem fundo Um ser vivo remexendo a terra sem coração aliado   Crepita o fogo na eternidade do gelo flutuante Enviando fagulhas caóticas trespassando os corpos A alma grita querendo erguer-se para a imensidão Desconhecendo atalhos que a libertariam da prisão   Baralham-se os termos que nos colam os lábios Nos cortam a língua Sob a frieza da lâmina em aço moldado O ciclone surge como guilhotina que degola E nos divide no lamaçal de que o humano é costurado   O sopro faz-nos levantar voo com outro rosto Dotados de novos membros fortes asas Para sermos donos dos céus múltiplos ...

Insulamento existencial

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  Foto: Ana Maria Oliveira Desliza um rio sereno de lágrimas num rosto manchado pelo tempo Marcas de risos e choros de quem almeja conexão com a natureza Consigo próprio e com o outro em abrupto sentimento Germina eternamente o paradoxo de quem está só no meio da multidão De quem desloca o seu foco para fora do grupo em fugida Almejando o voo de duas almas que criam juntas Galáxias inteiras jorrando veias palpitantes de vida Esta solidão feita antagonismo esbofeteia-nos com o desazo Na ligação total com o semelhante em desdobramento Submergindo na plataforma vacilante da interpretação Que nos une e simultaneamente nos arrasta para o afastamento Não há ciência que preencha este vazio de frieza e que por dentro gela Não há criação humana que me abrace as dores e me aquiete o espírito Os pés frágeis sob o peso do tempo abandonam-se ao colo da mãe austera Que tanto anima abraça facilita o florescimento Como me desintegra arruína num processo gigantesco Que concomitant...

O regresso dos corvos

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  Foto: Ana Maria Oliveira A mensagem esconde-se na silhueta hirta do corvo No ponto mais alto da torre recortada pelo céu de lua cheia Anuncia a insubmissão ao meloso   Alerta-me para a divisão fictícia E para a consciência da unidade que liga os seres E que permanece no substrato das melodias perpétuas   Aconselha-me a tentar o diferente sem receios Pois o jogo da existência é premente Em forma de amor e de gente   Encoraja-me a defrontar estímulos impulsionados pela criatividade Que me aproxima do ser galáctico fatal   Aponta-me a peculiaridade com que me envolvo No comando da minha experimentação vivencial   Injeta-me o ânimo nas veias para abraçar reinos díspares Convidando à dança e à alegria do respirar do poeta Empurra-me para a diligência de dizer não a situações E pessoas que arrastam com ela a mágoa que outros afeta   Orienta-me para o sentir da inteligência cósmica Permanecendo livre de abrir as...

O trovejar dos espíritos

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  Foto; Ana Maria Oliveira Agitam-se os elementos obscurecendo o cenário Onde os humanos aceleram amedrontados Pelo cintilar enfurecido dos relâmpagos Lembrando que a natureza é rainha ignorando o sofrimento E os enredos cinematográficos criados na mente São subterfúgios aguçados a faca sem substância nem alimento   Apenas uma autofagia prazenteira que amarra os piedosos À sua ineficácia indefesa perante a avalanche De fogo e pedras lascadas Lava e águas turvas revoltadas   Dancem elementos! Venham lembrar-nos que somos invisíveis Na profundidade do universo Partículas ínfimas aturdidas Pela cilada em que nos permitimos enredar Perspetivando o enigmático caixão Captando a onda eletromagnética em que nos movemos Provocando o sentir como apenas um encontrão Querendo levantar voo até onde a águia vive Mas desgraçadamente mantemos os pés agrilhoados ao chão   Vem tempestade! Acorda-nos desta modorra em que caímos Amorda...