A rua
Foto: Ana Maria Oliveira Outrora terra batida cercada por olivais e searas Foi projeto de aconchego a famílias de aldeias Onde a míngua era o pão nosso de cada dia e as carícias raras Esperançados nas promessas da grande cidade Investiram os últimos tostões e apostaram no desconhecido Este é o caminho daquele que rompe com a miséria impondo a vontade A classe operária no seu ritual robótico vingou O pesadelo da fome ao lado passou contornando as censuras Apesar de um governo débil e medíocre que maltrata Finalmente um teto sobreveio ultrapassando agruras A criançada para a rua se alvoraçou e juntou Traquinices e risotas corridas e aventuras Foi tempo de construção Agora a rua tem no chão tijolos de betão Irregular aos altos e baixos sem planeamento Ao sabor de tempestades e do vento Da sorte florida impregnada de determinação Os construtores da rua de velhice faleceram Os seus filhos outras vidas tiveram Vícios sonhos desastres medos pandem